Centro de Ensino Sonhém de Cima ganhou laboratório com 16 aparelhos, rede via satélite e energia solar
Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto
“Este dia é um marco histórico, é a possibilidade de conectar as crianças com o mundo”. Foi assim que a diretora do Centro de Ensino Sonhém de Cima, Maria do Socorro Xavier Rodrigues, definiu o projeto que proporcionou à escola a construção de um laboratório com 16 computadores com acesso à internet via satélite e funcionamento 24 horas por energia solar e baterias. Tornou-se real o sonho de mais de 160 alunos do ensino infantil ao quinto ano que frequentam o colégio localizado na área rural da Fercal, no Assentamento Contagem.
O laboratório foi entregue oficialmente à comunidade escolar do Sonhém de Cima em solenidade na manhã desta quinta-feira (6), quando estudantes e professores tiveram acesso à sala. “Antes nós tínhamos uma internet que não funcionava muito bem”, conta a diretora. “Se mais de um aparelho fosse conectado, ela caía; então, a gente não podia contar com ela. Já tivemos que ir até alguma fazenda para pedir sinal. Agora nós temos internet e poderemos fazer o que quisermos para tornar nosso planejamento pedagógico mais dinâmico e atraente”.
A mudança ocorre por meio do projeto Educa.Tech Learning, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Católica de Brasília (UCB) com o fomento do Governo do Distrito Federal (GDF). Foram investidos R$ 1 milhão, recursos conquistados por meio de edital da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF).
Crianças já lidam com os equipamentos, e internet, que caía sempre, deixou de ser um problema | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília“O nosso papel nesse projeto foi o fomento da pesquisa”, detalha a superintendente em Ciência, Tecnologia e Inovação da FAP-DF, Renata Vianna. “O trabalho da FAPDF é proporcionar que as pesquisas possam ser feitas e depois utilizadas pelo GDF na formulação de políticas públicas, nesse caso, para a educação.”
A ideia surgiu em meio à pandemia de covid-19, quando a falta de inclusão digital dificultou o acesso dos estudantes do campo aos conteúdos durante as medidas de distanciamento social. “Nasceu da necessidade de atender crianças em escolas rurais que não tinham internet; esse foi o ponto de partida”, afirma o coordenador do projeto, Carlos Carrasco.
O primeiro desafio encontrado foi exatamente como permitir o uso da internet a locais sem acesso das operadoras. A solução foi utilizar a conexão via satélite. Além disso, a sala ganhou placas fotovoltaicas para evitar problemas decorrentes de cortes e apagões mais comuns em áreas rurais se tornando num sistema autossustentável.
A proposta tem como finalidade atingir três metas: garantir inclusão digital, melhorar o desempenho educacional e combater a evasão escolar. “Queremos atingir esses objetivos finais, e, para isso, o laboratório tecnológico é apenas uma ferramenta”, relata Carlos Carrasco. “O próximo passo são as oficinas para capacitação dos professores que serão responsáveis por atuar na sala. Dos 16 computadores, um é dos professores, e 15, dos alunos”.
A estudante do quarto ano Keylla Ranne de Sousa Lima, 10, foi uma das primeiras a testar um dos computadores do laboratório, e gostou da experiência: “Aqui na escola, é a primeira vez que estamos mexendo no computador. Eu não tenho na minha casa, e tem muitos aqui que nunca mexeram e estão tendo a oportunidade agora. Vai ser muito importante para o nosso futuro e para o aprendizado”.
Aluna do quinto ano, Luara Mendes Cunha, 11, ressalta que os alunos sofriam com a falta de internet. “No máximo, os professores usavam para alguma apresentação, mas não prestava”, lembra. “Esse laboratório muda a realidade do nosso dia a dia”.
Esse é o segundo projeto Educa.Tech Learning em escolas rurais do DF. A proposta teve início no Centro de Ensino Fundamental (CEF) Queima Lençol, também na Fercal. “É uma versão melhorada porque, além da internet e dos computadores, estamos colocando nas máquinas ferramentas de gamificação, com jogos de matemática e de português que as crianças usarão para complementar a aprendizagem de forma lúdica”, conta Carlos Carrasco.
O objetivo agora, pontua ele, é analisar o desenvolvimento do projeto no Centro de Ensino Sonhém de Cima. “Vamos ver as evidências e fazer uma avaliação desse programa daqui a um ou dois anos para aí construirmos uma estratégia para virar uma política pública”, anuncia.
“Estamos empenhados em aproximar a FAPDF da secretaria para que projetos como esse se tornem política pública”, defende o subsecretário de Inovação, Capacitação e Inclusão Digital da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Vinícius Vasconcellos.